Na semana que completa 46 anos de trajetória, a Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz rememora os 60 anos do Golpe Militar de 1964. Com apresentações do espetáculo de teatro de rua “O Amargo Santo da Purificação” no dia 29 de março, às 16 horas, no Parque Mascarenhas de Moraes, no bairro Humaitá, e no dia 31 de março, às 16 horas, no Parque da Redenção próximo ao Espelho d’Água, e no dia 1 de abril apresenta a performance “Onde? Ação n. 2”, ao meio-dia, na Esquina Democrática (Rua dos Andradas com Av. Borges de Medeiros).
“O Amargo Santo da Purificação – Uma Visão Alegórica e Barroca da Vida, Paixão e Morte do Revolucionário Carlos Marighella”, encenação conta a história de um herói popular que os setores dominantes tentaram banir da cena nacional durante décadas. A dramaturgia elaborada pelo Ói Nóis Aqui Traveiz parte dos poemas escritos por Carlos Marighella que transformados em canções são o fio condutor da narrativa. Utilizando a plasticidade das máscaras, de elementos da cultura afro-brasileira e figurinos com fortes signos, a encenação cria uma fusão do ritual com o teatro dança. A peça recebeu diversos prêmios e percorreu a maioria dos estados brasileiros, apresentando em capitais, cidades do interior e também em assentamentos rurais. Com uma riqueza de detalhes e uma nova relação com a estética de rua, a criação coletiva resgata uma parte importante da história do nosso país, trazendo para esse grande público do teatro de rua capítulos decisivos da nossa vida política e social. Sem trair a sua vocação artística instauram a alegria e a indignação nos espectadores.
A performance “Onde? Ação n. 2” de forma poética provoca reflexões sobre o nosso passado recente e as feridas abertas pela ditadura militar. Na performance a relação de mulheres com cadeiras vazias de pessoas ausentes. No final, durante alguns minutos, a mulheres lembram os nomes dos desaparecidos políticos do Brasil. A ação performática se soma ao movimento de milhares de brasileiros que exigem que o Governo Federal proceda a investigação sobre o paradeiro das vítimas desaparecidas durante o regime militar, identifique e entregue os restos mortais aos seus familiares e aplique efetivamente punições aos responsáveis. “Onde? Ação n. 2” vem sendo encenada em diversas cidades brasileiras, tendo já realizado circuito de apresentações na Argentina e Cuba.
As apresentações fazem parte do evento nacional de rememoração dos 60 anos do golpe civil-militar no Brasil, junto com o Coletivo Testemunho e Ação/SIG, que integra a Coalizão Brasil por Memória Verdade Justiça; e marcam a abertura do Projeto Caminho Para Um Teatro Popular – Circuito de teatro de rua em bairros populares de Porto Alegre. Projeto realizado através de Emenda do Vereador Robaina.
Tendo como base o Teatro Ritual de Antonin Artaud e o Teatro Épico de Bertolt Brecht, a Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz bebeu de diversas fontes cênicas durante a sua trajetória, como o teatro revolucionário do Living Theatre, o trabalho de ações físicas dos mestres europeus Stanislavsky, Meierhold, Grotowski e Eugênio Barba, e dos brasileiros Augusto Boal (Teatro do Oprimido), José Celso Martinez Corrêa (Teatro Oficina) e Amir Haddad (Tá Na Rua). Nesses quarenta e seis anos criou encenações que marcaram o teatro brasileiro como Ostal, Antígona Ritos de Paixão e Morte, Fausto, A Saga de Canudos, Kassandra In Process, O Amargo Santo da Purificação e Medeia Vozes. Acreditando no Teatro como um modo de vida, o Ói Nóis Aqui Traveiz desde a sua origem dissemina ideias e práticas coletivas, de autonomia e liberdade, compartilhando a experiência de convivência e de laboratório teatral.
Fotos de Mariana Rotili.